quinta-feira, 19 de abril de 2012


   
CHAMADA PARA PUBLICAÇÃO

 
Passagens. Revista Internacional de História Política e Cultura Jurídica – on-line está recebendo contribuições científicas inéditas na forma de artigos para seus próximos números. O periódico acadêmico é quadrimestral e recebe textos EM FLUXO CONTÍNUO. Artigos já enviados para a revista se encontram em avaliação e/ou processamento. Normas para publicação podem ser encontradas no site: http://www.historia.uff.br/revistapassagens/.
ISSN (on-line):  1984-2503

O principal objetivo de Passagens é ampliar o espaço de sociabilidade acadêmica dos campos intelectuais das ciências humanas e sociais aplicadas, com ênfase em estudos de história política e cultura jurídica. Passagens incentiva a divulgação de trabalhos em andamento que contribuam para o aprofundamento de pesquisas com abordagem transdisciplinar, dando visibilidade à discussão pertinente no Brasil e no exterior. Para tanto, publica artigos inéditos, que são submetidos a um processo de avaliação, através de pareceres; e aceita artigos e resenhas em quatro línguas: português, espanhol, francês e inglês, e é publicada eletronicamente três vezes ao ano: janeiro, maio e setembro.

quarta-feira, 4 de abril de 2012


O SUL A PARTIR DO SUL[1]

Gisálio Cerqueira Filho[2]

            Não há dúvida que o MERCOSUL mirou estrategicamente a Europa e, em especial, o Mercado Comum Europeu. A denominação “Casa Comum Europeia” foi dada por M. Gorbachev em plena glassnot e no curso da perestroika. Os processos de “abertura” e “transparência” que marcaram o fim da União Soviética assinalaram também a simpatia do Governo Ronald Reagan (EUA) e o acolhimento europeu em relação à Rússia e às repúblicas independentes, antes associadas à URSS. Com o fim da chamada “cortina de ferro”, fortaleceu-se um novo quadro de nações independentes no Leste europeu, e a questão da Iugoslávia é um bom exemplo, com a explosão das nacionalidades e etnias, após a morte Josip B. Tito. Certamente um Papado “polonês” trouxe para a Europa românica um pouco do Leste europeu e vice-versa. O fim do muro de Berlim com a emergência de uma Alemanha unificada, embora causasse alguma surpresa pela velocidade com que ocorreu, inscreveu-se no curso dos novos acontecimentos históricos. A comunidade europeia foi decisiva no acolhimento dos países do Leste, a despeito das discriminações, inclusive religiosas.
            A integração e o fortalecimento da comunidade europeia foram acompanhados desde o Sul, como um exemplo a ser, senão seguido à risca, observado mais de perto. O euro como moeda comum que substituiu as antigas moedas nacionais para os membros da comunidade europeia (a manutenção da libra esterlina é um caso à parte) e as transformações na esfera econômica, malgrado as dificuldades de ordem financeira, tomaram um rumo de certo modo inexorável. Maior razão para que a América do Sul observasse a Europa como exemplo a nortear a comunidade sul-americana ou mesmo uma “comunidade latino-americana de nações”. A constituição brasileira de 1988, na saída do regime militar, inclusive incluiu esse desiderato.
A rigor, comparar entre si a União Europeia e o Mercosul pode parecer improcedente.  São realidades distintas em momentos históricos diversos. Para muitos analistas os objetivos da União Europeia estavam, até o ano de 2011, praticamente atingidos e em vias de seu coroamento, sobretudo após a implantação do euro como moeda comum. Enquanto isso, o Mercosul enfrentava desafios, além da oposição dos EUA, e parecia engatinhar.
Hoje, porém a realidade é outra. Muitos países europeus sentem-se impotentes com a perda da autonomia dos respectivos Bancos Centrais, no que concerne às políticas cambiais nacionais. E as contínuas transferências de renda do setor produtivo propriamente dito para o setor financeiro “reorganizaram desorganizando” a economia europeia, pois não foram gerados fundos compensatórios voltados para os desequilíbrios macroeconômicos passíveis de acontecer e que acabaram ocorrendo.

Entretanto, partilhamos da opinião que mesmo assim (...)

“a experiência de construção de um Mercado Comum e de uma União Política vivida pela Europa Ocidental há mais de cinquenta anos, pode  representar, para processos mais recentes e situados em outras latitudes, uma referência extremamente enriquecedora. E isso porque mercados comuns apontam, necessariamente, para o exercício de quatro liberdades fundamentais, a de pessoas, serviços, capitais e bens,  situação que exige a constituição de regras, normas e instituições de caráter intergovernamental ou supranacional que implicam deveres, direitos e benefícios, assegurando que estes sejam  distribuídos de forma previsível e equitativa entre todos os Estados membros e setores sociais integrados ao projeto”.[3]
            Coincidindo com o estabelecimento do Estado de Direito Democrático, retomávamos os sonhos de latinoamericanidade tão em alta na década dos anos sessenta do século XX. Mas, de fato, quando foi assinado o Tratado de Assunção (Março de 1991) que criava o Mercosul (Mercado Comum do Sul), ninguém imaginava o que poderia vir no horizonte. Certamente alguma oposição dos EUA, que não via com bons olhos a sua não inclusão, bem como estava mais comprometido com os tradicionais acordos bilaterais. Desde então, muita coisa mudou no cenário internacional: a globalização avançou muito, especialmente no campo financeiro. O robusto surgimento da China nas trocas comerciais, sobretudo com a América Latina, com o surgimento dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul) e a presença do Brasil nesse grupo projetou indiretamente o Mercosul. Também a criação de outros fóruns multilaterais como a UNASUL, de escopo organizacional mais ampliado. Mas é marcadamente a crise do capitalismo, a partir da grande crise financeira dos EUA no fim da primeira década do Século XXI, que propicia condições novas de remanejamento nas relações sul-americanas.
            Nunca é demais ressaltar que a América do Sul apresenta aspectos favoráveis a um projeto de integração latino-americana. Além de um território de 17,6 milhões de quilômetros quadrados, há uma formidável diversidade de ecossistemas como a Amazônia, Caribe, a Cordilheira dos Andes, Pampas, Pantanal, o Cerrado. No total uma população de quase 380 milhões de habitantes e um produto interno de US$ 1,5 trilhão. Há grandes reservas minerais, significativos mananciais de água e rica biodiversidade. A América do Sul ostenta ainda recursos energéticos renováveis e não renováveis abundantes, onde avultam as primeiras descobertas de petróleo do Pré-Sal, no Brasil.[4]
Considere-se agora, como ressaltamos anteriormente, que, para o futuro, o acolhimento crescente do Leste Europeu poderia enriquecer a experiência de Casa Comum Europeia. Mas não é exatamente o que está acontecendo.
            O que se vê na esteira da crise financeira e já agora nos rastros da depressão vivida pelo capitalismo norte-americano, mas que atinge de modo inexorável a Europa, é que a América chamada latina tem a sua oportunidade de ouro para descobrir na solidariedade latino-americana de toda ordem, a possível saída para um projeto de emancipação e integração regional que permita colocá-la na pauta internacional enquanto comunidade sul-americana imaginada. E sem repetir o os equívocos do Mercado Comum Europeu.
            Se, por um lado, cabe ressaltar, entre os benefícios visíveis do MEROSUL o fim das hostilidades antigas e rixas velhas com a Argentina com base na suposição de que o país que dominasse a região do Prata, dominaria a América. Tal relação conflitiva e de constante provocação recíproca levou os dois países à chamada corrida atômica, visando fabricar a primeira bomba, com notáveis riscos de trazer a corrida nuclear para o continente. Se isso passou, restam renovadas dificuldades pela frente. Entre, elas, o quanto a caminho recente da desindustrialização da Argentina produziu espantosos desequilíbrios na balança de pagamentos com Brasil que merecem toda a atenção do Mercosul. E sabemos que há muitos obstáculos à emancipação regional integrada.  Avançamos no que concerne às relações culturais regionais e especialmente no campo da educação universitária, a criação da Universidade Federal da Integração Latino-americana (UNILA), no Parque Tecnológico de Foz do Iguaçu é eloquente exemplo.  O Presidente Luiz Inácio Lula a Silva empreendeu no seu governo uma estratégia  compreensiva das vulnerabilidades dos diversos países nos acordos visando as relações econômicas internacionais. São exemplos os acordos sobre o gás com a Bolívia e sobre a distribuição da energia elétrica, a partir de Itaipu. Os jovens latino-americanos estão aptos e mais sensíveis a descobrir os benefícios da integração regional que visa a emancipação.
            Se nem tudo são flores, nem tudo são lágrimas. Devemos realizar uma avaliação realística com olhos postos na definição de prioridades no Mercosul e alargando os convite para um formidável debate sobre os sentimentos políticos de solidariedade que podem fortalecer a nossa união.




Niterói, Fevereiro de 2012.


[1] Para reflexão e discussão no Núcleo Observando o Sul – NOS (Laboratório Cidade e Poder, LCP-UFF).

[2] Professor Titular de Teoria Política e Coordenador do Núcleo Observando o Sul – NOS.

[3] Sonia de Camargo. O Mercosul de ontem e de hoje: uma leitura a partir da experiência europeia in Gisálio Cerqueira Filho (org.). Sulamérica Comunidade Imaginada: emancipação e integração. Anais do XI Congresso Internacional do FoMERCO (Forum Universitário do Mercosul) realizado em Setembro de 2010 em Buenos Ayres. Niterói: EdUFF, 2011, p. 345.
[4] Ver Monica Bruckmann Mayneto. Ou Inventamos ou erramos: a nova conjuntura latinoamericana e o pensamento crítico. Tese de Doutorado orientada por Gisálio Cerqueira Filho, PPGCP/UFF, Niterói: campus do Gragoatá, mimeo., fevereiro de 2011.

domingo, 1 de abril de 2012

PASSAGENS. REVISTA INTERNACIONAL DE HISTÓRIA POLÍTICA E CULTURA JURÍDICA

Convidamos os interessados para que visitem o site de Passagens. Revista Internacional de História Política e Cultura Jurídica (on-line): http://www.historia.uff.br/revistapassagens/. A submissão de artigos ocorre em fluxo contínuo.