Eleições
lá e cá
Gisálio
Cerqueira Filho
Muitas pessoas reclamam que, no Brasil, o voto eletrônico
não venha acompanhado de um recibo e não tenha a garantia do voto impresso
simultâneo ao eletrônico. Isto num país em que sabidamente são grandes os avanços
na área da informatização, sobretudo, do sistema bancário. Pois na Venezuela o
ex-presidente dos EUA Jimmy Carter elogiou o sistema de votação venezuelano por incluir duas formas de contagem. Segundo
ele, isso dificulta qualquer tipo de tentativa de fraude. Naquele país, os eleitores escolhem o
seu candidato em uma urna eletrônica e ainda recebem um comprovante, que é
depositado em uma caixa vedada, aberta para confirmar os resultados eleitorais.
Além disso, um dos dedos é manchado com tinta indelével. Jimmy Carter coordena
uma instituição de monitoramento de eleições ao redor do mundo há mais de uma
década. Em conferência anual do Carter Center, o ex-presidente norte-americano assegurou
a lisura dos procedimentos com relação ao pleito em vias de realizar-se no país
que acaba de ingressar no Mercosul.
Como se não bastassem, tais
informações nos chegam acompanhadas de um reconhecimento forte de que,
preferências ideológicas à parte, os investimentos realizados a partir das
receitas oriundas do petróleo tem diminuído o padrão de desigualdade social neste
país. Essa constatação não exclui o debate acerca de uma das críticas da
oposição: a de que os acordos de cooperação na área petrolífera fiquem
comprometidos com os benefícios e os agrados aos que apoiam a revolução
bolivariana. Alguns oposicionistas chegam a falar em sucateamento da PDVSA,
empresa estatal de petróleo. E, todavia, a ONU declarou no mês passado que a
Venezuela é o país com menos desigualdade social na América Latina. Além da UNESCO
ter assegurado números relativamente confortáveis no que concerne à
alfabetização e educação.
Os que apoiam Capriles contra Chavez põem as barbas de
molho pois sabem que as possibilidades do pré-sal brasileiro apontam para
fortes investimentos sociais a partir da exploração do petróleo na plataforma
submarina. Além do que, os debates entre Barack Obama e Mitt Romney acerca dos
investimentos sociais estatais, com olhos no voto latino-americano no pleito
eleitoral norte-americano, autorizam e liberam as hipóteses de legitimidade
tanto dos investimentos estatais na Venezuela (as chamadas missões
bolivarianas) quanto o portfólio de bolsas governamentais brasileiras que
sabidamente tem produzido frutos seja na incorporação de alguns milhões de
despossuídos nas classes médias baixas, seja no avanço das classes médias
propriamente ditas, com a incorporação social de milhões de descendentes afro-brasileiros.
Assim, lá (nos EUA), como cá (no Mercosul), desprezar
políticas públicas de diminuição da desigualdade social é desprezar tanto o
voto latino (nos EUA) quanto o voto dos pobres e despossuídos (no Mercosul). É
um tiro no pé e o melhor atalho para a derrota eleitoral seja nas eleições
presidenciais norte-americana e venezuelana; seja na eleição municipal brasileira. O que não significa dizer que estar atento a
isso basta para vencer as eleições.
Sobretudo, o mais interessante é o quanto isso autoriza a
entrada na cena política dos mais pobres como protagonistas.
Cada vez mais vemos homens e mulheres vindos dos extratos
mais empobrecidos da população chegando às universidades, aos shoppings, aos
bens de consumo, às viagens aéreas, às novas subjetividades... Mas aspiram em primeiro lugar à voz pública e
à participação político-social. Incluem-se e são incluídos como cidadãos.
As lideranças diversas, porém comprometidas com uma certa
dose de protagonismo popular como de Barack Obama, Hugo Chavez e Luiz Inácio
Lula da Silva não podem, pois ser desprezadas ou descartadas. Elas vieram para
ficar, por mais que contrariem interesses mais estabelecidos ou sejam menos
cortejadas pelas mídias, que, por seu turno, também vão mudando...
Significativos setores intelectuais nos EUA e na Europa
tem reconhecido o papel importante que o Brasil tem desempenhado na redução da
pobreza.
Entretanto, há ainda muito por fazer. É o que a
Presidenta Dilma Rousseff tem dito nos fóruns nacionais e internacionais.