terça-feira, 6 de outubro de 2015

ENCONTRO INTERNACIONAL DE FoMERCO EM  PARAGUAI

Gisálio Cerqueira Filho



Foto: Participantes do Forum Universitário Mercosul (FoMERCO) na recepção ocorrida na Casa do Embaixador do Brasil no Paraguai, 1ª fila, centro da foto.


Viajamos para Assunción com a finalidade de realizar um encontro de natureza acadêmica sobre o Mercosul entre os dias 02 e 04 de Setembro de 2015. O tema geral era: “Desenvolvimento e Autonomia: os rumos da integração”. Professores, acadêmicos, estudantes de pós-graduação, fomos recebidos no aeroporto de Assunción. Como chegávamos com algum material e propaganda do congresso, folders, banners, caixas com livros e impressos, houve necessidade de dar explicações à alfândega local. A recepção foi muito boa, não houve problema de nenhuma natureza, mas quando enchíamos o peito e falávamos orgulhosos do Mercosul, ouvíamos a pergunta cética “¿ muy bién, pero que es esso, de Mercosul?”... Após reunirmo-nos em Buenos Aires (2010), Montevideo (2012), estávamos agora em Assunción.
Alguns dias após o encerramento do XV Forum Universitário do Mercoul (FoMERCO)  na Universidad Catolica de Assuncíon (UCA) aconteceu algo que ninguém chegou a comentar, sequer como possibilidade, durante as discussões do exitoso encontro. Simplesmente, logo em seguida  ocorreram as jornadas de luta estudantil denominadas #UnaNoTeCalles. Foi de fato um verdadeiro terremoto da juventude paraguaia que conseguiu depor o Dr. Froilán Peralta como Reitor da Universidad Nacional (UNA), bem como implicou nesta queda o afastamento sucessivo de diversas autoridades universitárias.
Já em Assunción, conversávamos com alguns colegas sobre as greves múltiplas de docentes, estudantes e funcionários que aconteciam nas universidades federais do Brasil. Comentávamos à noite, durante o jantar, sobre o fato de serem, por um lado, inequívocos os avanços do ensino superior federal no Brasil, especialmente no que concerne à recepção de novos estratos sociais como estudantes universitários (embora muita coisa esteja por se realizar), e por outro lado, o fato destas greves terem levado a um acachapante esvaziamento dos campi que ficaram literalmente entregues às moscas e aos mosquitos... Observávamos então que isto prejudicava qualquer tipo de abordagem visando à discussão política consequente. E inexoravelmente acaba por produzir intensa despolitização.
Todavia, em Paraguai há antecedentes para os acontecimentos, inclusive a luta contra a Ley de Educación Superior (LES) ocorrida em 2012 e as denúncias (2008) contra um colaborador da ditadura de Stroessner – o Doutor José Antonio Moreno Ruffinelli, que havia sido nomeado como Reitor da Casa de Estudios e contra o autoritarismo dos Estatutos. Na ocasião ocorrera a tomada da sede central da UCA durante a aula magna que era então realizada.
A diferença entre Paraguai e Brasil que queremos ressaltar é que em Paraguai o movimento #UnaNoTeCalles  foi  estruturando-se aos poucos na massa estudantil e propiciando um fecunda discussão. Tal não tem acontecido no Brasil. A chamada crise universitária, que tem muito mais de “crise de crescimento e inclusão”, tem sido apresentada como crise clássica de carências, faltas e ausências; o que, no nosso entender, não é bem o está acontecendo.
Por seu turno o movimento  #UnaNoTeCalles  produziu rapidamente um outro fenômeno, já aí ao nível dos colégios públicos e particulares, com o sonoro título #ElSilencioNoEsNuestroIdioma. Mas, de fato, o silêncio dos campi federais no Brasil nos faz pensar... Observamos como a maioria dos estudantes, sobretudo aqueles que, além de jovens, tem dificuldades de toda sorte, chegam ávidos ao campus. O que eles mais desejam é serem acolhidos e orientados na organização de uma pauta de estudos que produza uma revolução nas suas vidas.
Devemos os educadores, professores e orientadores, apurar a inteligência e a sensibilidade para esse acolhimento pedagógico. Oxalá os grandes Augusto Roa Bastos (1917-2005), com sua obra e especialmente com “Yo El Supremo” (1974), assim como Agustin Barrios Mangoré (1985-1944), violonista, compositor e mestre da guitarra, nos permitam afinar pensamento e sentimento nesta direção.

Rio de Janeiro, 05 de Outubro de 2015.