domingo, 9 de dezembro de 2012



MERCOSUL ÀS VÉSPERAS DE 2013

Gisálio Cerqueira Filho
O ultimo encontro do FoMerco (XIII Congresso Internacional do Fórum Universitário Mercosul), foi  realizado recentemente, fins de novembro, em Montevidéu.
Como não poderia deixar de ser, vamos consolidando a prática de realizarmos os congressos anuais do FoMerco também fora do Brasil. O primeiro encontro fora do Brasil deu-se em Buenos Ayres em 2010. Também vamos consolidando a prática acadêmica de concorrermos aos editais públicos (IPEA, CAPES, CNPq. e outras agências) visando a obtenção de recursos para os eventos, publicações, anais de congresso, viagens internacionais, etc. Tudo isso vai conferindo maior institucionalidade ao FoMerco e vai tecendo laços acadêmicos e de solidariedade com os colegas argentinos, brasileiros, paraguaios, uruguaios, venezuelanos e outros latino-americanos visitantes e observadores sempre bem vindos.
Na continuidade do congresso de Montevidéu, reuniram-se nos primeiros dias de dezembro no Palácio do Itamaraty, em Brasília, os presidentes do Mercosul. Na ocasião, o Uruguai assumiu a presidência pro tempore do bloco econômico e a Bolívia assinou o protocolo de adesão como membro pleno do Mercosul. Os bolivianos terão até 2016 para se adequarem às normas do Mercosul, entre outras, aquelas referentes à Tarifa Externa Comum (TEC) utilizada no comércio com terceiros mercados. A Venezuela, na ausência do presidente Hugo Chaves em tratamento de saúde em Havana, Cuba, esteve representada pelo seu Ministro do Petróleo, Rafael Ramirez.
Natural que a presença da presidenta da Argentina, Cristina Kirchner tenha merecido grande atenção da imprensa, em função dos embates políticos que estão ocorrendo relacionados aos meios de comunicação em geral (ley de medios) e ao jornal El Clarin, em particular. Mas não só, pois foram muitas as perguntas relativas às medidas protecionistas de natureza econômica que vêm causando profundo desconforto aos exportadores brasileiros. Na reunião dos presidentes de Estado, a presidenta Cristina usou uma curiosa metáfora para aludir à sua prática política, que vem acarretando confronto explícito com a mídia local e mesmo internacional. Para caracterizar o pensamiento contracorriente e também a prática, coerentes com uma postura que se choca com a hegemonia das empresas midiáticas ela valeu-se do exemplo de um peixe, o salmão patagônico, tão apreciado no país quanto no exterior. Como sabemos, os salmões nadam contracorriente para alcançar o local onde vão desovar. Segundo as leis da Natureza, morrem ao fim da jornada, mas acabam produzindo filhotes cada vez melhores... Para muitos a metáfora foi interpretada como ênfase num esforço suicidário a ser comparado com o enfrentamento com a mídia argentina. Para outros, a metáfora colocava sua ênfase na luta contra o modelo econômico neoliberal, que pode colher êxitos, apesar dos estragos mortais que tal luta política acarreta.
O curioso, ao menos, para os brasileiros, é que valendo da legislação em vigor, Cristina Kirchner recorreu a Corte Suprema Argentina para assegurar a legitimidade e a força do Poder Executivo diante de uma Assembleia Nacional dividida e descrente, para não dizer da própria sociedade argentina, diante da “ley de medios”. Pois no Brasil se passa exatamente o contrário. A presidenta Dilma Rouseff vê-se certamente acuada diante de um Poder Judiciário (Supremo Tribunal Federal) que transforma um julgamento sobre práticas de corrupção eleitoral num julgamento de exceção. Controvertido e polêmico do início ao fim, açodado pela mídia brasileira, acaba por diminuir e até retirar, a legitimidade do Poder Executivo que se mantém em níveis elevadíssimos pelas pesquisas de intenção de voto - tanto Dilma Rousseff quanto o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva – e diante da governabilidade demonstrada no Congresso Nacional. É interessante observar a judicialização de conflitos de natureza política onde as empresas de mídia são protagonistas cruciais (a ponto de, na atualidade, muitos cientistas sociais as considerarem como verdadeiros partidos políticos). Lá, na Argentina, o embate recorre ao Judiciário para afirmação do poder político executivo; aqui, no Brasil, o embate recorre ao Judiciário para diminuir a afirmação do poder político executivo. Em ambos os casos o poder judiciário é suscitado como protagonista da última palavra. Matéria para pensar...
Mas não só, pois num outro diapasão, os países do Mercosul concentram os seus esforços na observação atônita do quanto os EUA, numa manobra verdadeiramente audaciosa, mira na China e nos países asiáticos do Pacífico para acertar o alvo dos países do Mercosul cada vez mais parceiros comerciais preferenciais dos chineses no mundo globalizado. A visita à Ásia do presidente Barack Obama, após a reeleição, não terá sido em vão.

Gisálio Cerqueira Filho
Professor Titular Teoria Política – UFF

Niterói- Rio de Janeiro, Brasil.
Editor de PASSAGENSRevista Internacional de História Política e Cultura Jurídica