MIDIATIZAÇÃO
DA CRISE
Gisálio Cerqueira Filho[1]
“Desde la perspectiva de quien no vive el día a
día la política brasileña, debo decir que soy capaz de percibir que el
espectáculo ofrecido con el juicio político seguido contra la presidenta Dilma
Rousseff se asemeja mucho a los ya vividos en otros países como Paraguay u
Honduras, en los que, como ahora, el golpe se fraguó institucionalmente por
parte de quienes solo están interesados en alcanzar el poder a cualquier precio”
(Baltasar Garzón Real,
jurista, Magistrado Juiz y advogado espanhol).
[1] - Judicialização e
Midiatização da Crise –
MIDIAtização – MÍDIA, a pronúncia vem do inglês, mas a expressão vem do latim MEDIA
(meios). A fonética em inglês de uma expressão latina é já um sintoma da
presença dos EUA na cultura política brasileira. Há um movimento político da
nova direita que conta com apoio na atual judicialização da política (crise) e
da midiatização desta crise para tirar a presidente do poder executivo como se
estivéssemos no parlamentarismo, pois a presidente perdeu a maioria no
congresso nacional. O presidencialismo de coalizão foi praticado pelo PSDB, o
qual, todavia, não o aceita quando a liderança é da esquerda ou
centro-esquerda. É como se os sentimentos políticos que embasam a legitimidade
da coalizão estivessem cravados nas concepções religiosas de pureza dos “
eleitos de Deus” – estes sim; podem realizar coalizões, pois não se
corromperão; e quando isso ocorrer é para o bem a ser alcançado sabe-se lá
quando...
The
medium is the message (Marshall McLuhmann) é mote para o
movimento para apear Dilma do Poder, pois que passa pelo monopólio da televisão
(REDE GLOBO) e pela ausência de “controle social” vigente da mídia. O
contraponto das redes sociais mostrou-se insuficiente para barrar o poder midiático;
embora elas tenham sido decisivas nos resultados eleitorais de 2014, que deu a
vitória ao PT. Recorde-se ainda que a renovação da concessão para a GLOBO ocorrerá
nas vésperas das eleições em 2018.
[2]
Uma interessante questão é que a mídia
estrangeira, interessada no Brasil, faz um belo contraponto ao monopólio da
REDE GLOBO, e esta é certamente uma novidade no cenário internacional. A mídia
estrangeira tem feito um trabalho jornalístico mais profissional, o que deixa a
mídia brasileira incomodada. Então ela precisa dar uma satisfação à sua
audiência.
[3]
Ficção
guiando a realidade?
Reportamo-nos a recente artigo
publicado em O GLOBO. O título diz muito:
“A cabeça de Lula”. Há o fato de que o cineasta José Padilha acabou de
fechar um acordo com a empresa norte-americana NETFLIX para a elaboração de um
seriado sobre a “Operação Lava-Jato”. No ensaio de 18 de abril Padilha sugere a
hipótese de haver evidências irrefutáveis contra o ex-presidente Luiz Inácio
Lula da Silva capazes de justificar sua prisão e condenação pelo juiz Sergio
Moro... À tal hipótese segue-se outra de que, neste caso, os “fanáticos lulistas”
entrariam em campo para exigir que o STF corte mais cabeças. Padilha chega a
dizer cinicamente que então estaria com o PT. E, por fim, conclui que o futuro
do Brasil talvez dependa de uma só coisa: da cabeça de Lula. A esta notícia
assim reagiu o advogado de Lula, Cristiano Martins Zanin: “Caso o seriado de Padilha dependa da “cabeça de Lula” para fazer
sucesso, ele vai viver um problema. O mais fácil será ir atrás de outro
personagem que se curve à sua realidade particular”.
E ainda há quem diga que não
há um golpe em curso no Brasil. A midiatização de uma crise econômica séria deu
asas ao imaginário das elites que viu no horizonte uma oportunidade de golpe
jurídico-midiático-financeiro contra as forças populares, malgrado todos os
erros de gestão e alcance político que o governo de coalizão do PT tenha
cometido...
A gestão pública não confere
no presidencialismo, ainda que de coalizão, o direito de derrubar a presidente
da república legitimamente eleita. Mas há mais: sugere-se já descaradamente que
Lula pode ser preso a qualquer momento. O golpe em curso é também preventivo contra
eventual candidatura de Lula mais adiante.
[4]
A
nossa conclusão, nestas breves reflexões, é que o golpe em curso não é uma
questão do pensamento, sequer do pensamento jurídico ou da “ciência do direito”,
como muitos ainda gostam de dizer. Não é também uma questão estritamente
afetuosa, uma posição afetiva contra o PT ou a presidente. O golpe é uma
questão prática que já está em curso. Esta interpretação é também acompanhada por
André Ramos Tavares, professor titular da USP, que atua na área do Direito Constitucional
Econômico. Já foi Pró-Reitor da PUC-SP e tem livros publicados, entre eles, com
Ives Gandra Martins e Gilmar Mendes, conhecidos críticos do Governo. Citamos “Lições
de Direito Constitucional em Homenagem ao Jurista Celso Bastos”.