segunda-feira, 30 de julho de 2012

Prezada/os Colegas:
 
Encaminhamos o endereço eletrônico do blog do IV Colóquio Internacional do Laboratório Cidade e Poder e I Seminário de História Política, que ocorrerá entre 25 e 28 de setembro próximo vindouro. Na ocasião, estaremos comemorando os 20 Anos do Laboratório Cidade e Poder (1992-2012).

domingo, 22 de julho de 2012


AQUÍFERO GUARANI

Gisálio Cerqueira Filho

Comenta-se com insistência que o Paraguai vai entrar para a área de influência dos Estados Unidos da América do Norte. E não só comercialmente, pois deverá permitir que os EUA instalem uma base militar no seu território. Há tempo que o irmão do norte quer uma base junto do “Aquífero Guarani”, a maior reserva de água doce potável do mundo, e que abrange parte do Paraguai, Uruguai, Argentina e quase toda a região sul do Brasil; mais pedaços de Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Goiás, e a região da Serra Dourada junto de Brasília. Ocupa uma área de 1,2 milhões de km², assim distribuídos: Brasil (840.000l Km²), Paraguai (58.500 Km²), Uruguai (58.500 Km²) e Argentina (255.000 Km²). Todos os estudiosos estão de acordo que o  Aquífero Guarani constitui-se em uma importante reserva estratégica tanto para o abastecimento da população, quanto para o desenvolvimento das atividades econômicas e de lazer.
Devemos abordar tal questão no âmbito estrito dos interesses sul-americanos e não como revanche que o Paraguai possa dar aos atuais membros do Mercosul que acordaram a sua suspensão temporária do grupo; o que deverá ser ratificado em novo encontro dos países membros no próximo dia 31 de julho. O impedimento do presidente Fernando Lugo, na forma antidemocrática como ocorreu, ensejou a determinação de Argentina, Brasil e Uruguai. Na sequência da ausência do Paraguai, houve a aprovação da Venezuela como novo país membro do Mercosul, pois até então estava exclusivamente na dependência da aprovação do congresso do Paraguai. Muitos não esperavam a decisão acordada pelo Brasil, Argentina e Uruguai de suspender o Paraguai do Mercosul; todavia, sem que se tomassem decisões de retaliação ao povo paraguaio.
Hoje como ontem, fica bastante claro como as eventuais diferenças entre latino-americanos da Sul-América podem ser usadas no sentido de dividir os sul-americanos. Ressentimentos de longa data, sentimentos requentados, são trazidos à superfície das relações diplomáticas entre governos quando não é a própria intriga que serve aos interesses da desintegração regional e dependência internacional. Nesses 200 anos de esforço pós-independência política, visando a integração e emancipação nos termos de uma comunidade imaginada podemos então conferir o sucesso precário da caminhada.
Na América do Sul, e no Brasil em particular, a hipótese dos renovados interesses nacionais escaparem dos conflitos em escala global que ocorrem hoje, na Síria, por exemplo, apontam para uma singularidade na conjuntura internacional. Nesse cenário, atiçam-se sentimentos de inveja e cobiça com relação às reservas do petróleo do Pré-sal, do legítimo desejo independentista da Argentina nas Ilhas Malvinas e com relação às visíveis potencialidades do continente sul-americano, num contexto de crise mundial. O fracasso da ALCA com a expressiva liderança política do Governo Luís Inácio Lula da Silva levou, numa contraofensiva norte-americana, não só a acordos bilaterais e maior aproximação dos EUA com México e Colômbia, mas também ao estabelecimento de novas bases militares de fixação terrestre norte-americanas na região, bem como o deslocamento da IV Frota da Marinha dos Estados Unidos. para o Atlântico Sul.
Experimentos políticos realizam-se hoje em vários pontos da América do Sul. Não só no que concerne à integração cultural e a uma fantástica aproximação linguística; há presentemente muito maior integração e comunicação entre as juventudes latino-americanas, inclusive no plano universitário. A criação da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA), em Foz do Iguaçu, foi um avanço. Na atualidade, Venezuela, Bolívia e Equador realizam fortes experimentos de participação popular política e social a partir de associações proletárias, algumas vezes também de moradores e círculos de vizinhança, criam conselhos comunitários, num processo social que  prenuncia novas formas de organização política.
Uma fábula pode ilustrar a importância de sabermos gerir diferenças entre nós latino-americanos, mesmo diante de circunstâncias excepcionais como agora com Fernando Lugo e, ontem com o golpe em Honduras. O que não se pode é oferecer a oportunidade para um maior divisionismo seja no Mercosul, seja na UNASUL ou em qualquer outro organismo multilateral que nos junte.
Mas passemos à fábula, de natureza realista. Com perspectivas distintas sim, mas ambos interessados na disputa olímpica, modalidade esportiva do futebol, Grã-Bretanha e Brasil jogaram no dia 20 de julho uma partida amistosa às vésperas das Olimpíadas de Londres. O time da Grã-Bretanha não joga o futebol olímpico há 41 anos, quando falhou ao tentar disputar uma vaga no torneio olímpico de Munique, 1971. O Brasil, cuja fama no futebol corre o mundo, deseja ardentemente o que ainda não tem: a medalha de ouro no futebol olímpico.
Sabemos que historicamente, no âmbito da Grã-Bretanha, ingleses, irlandeses, escoceses e galeses se pegam e tem que administrar diferenças e conflitos de interesses econômicos, religiosos e políticos. Aparentemente bem sucedidos na política, não se pode falar o mesmo no futebol. Junto à FIFA os interesses divergentes acabam por cobrar entre as suas exigências um certo divisionismo: por exemplo, as quatro nações são representadas separadamente e querem direitos políticos com assento singular no International Board; exigem uma vice-presidência na própria FIFA (hoje ela é garantida por rodízio entre as quatro nacionalidades), querem ainda manter a particularidade nos uniformes (camisas) para as competições internacionais. Os conflitos a partir das exigências singulares fizeram com que as Federações da Irlanda, Escócia e Gales, desestimulassem com veemência seus jogadores a aceitar a convocação para as Olimpíadas. O resultado foi um time de futebol que está longe de representar a força máxima da Grã-Bretanha e isso apesar da aceitação dos cinco galeses convocados.
Essa é a moral da fábula: se querem ser ouvidos politicamente, os latino-americanos não podem chegar cada qual à arena da política internacional sem o máximo do seu força poder. Mas temos que chegar juntos. Juntos e fortes. E para tanto se requer muita aproximação, habilidade, conversação, espírito de grandeza. Oxalá, saibamos corresponder àqueles que tanto esperam de nós.

sexta-feira, 6 de julho de 2012


A China bate à porta
  
 Gisálio Cerqueira Filho 

Tudo acontecendo junto: 1) a crise no Paraguai com o impedimento do Presidente Lugo e logo a suspensão do parceiro do Mercosul em reunião concertada pelos presidentes do Brasil, Uruguai  e Argentina. 2) as inevitáveis repercussões da crise, as vozes agourentas de sempre, agora renovadas, numa visão catastrofista em marcha. 3) Como se não bastasse, na reunião do Mercosul em Mendoza, o Embaixador Samuel Pinheiro Guimarães apresenta renúncia de suas funções como Alto Representante Geral e apresenta uma carta-documento sobre os impasses do Grupo. 4) A Venezuela é anunciada como novo membro do Mercosul em Mendoza, no vácuo do poder, propiciado pela ausência guarani, cuja Câmara dos Deputados não era favorável ao novo parceiro. Dá-se então o anúncio de que haveria a confirmação da Venezuela como membro pleno no fim de julho em reunião prevista para a cidade do Rio de Janeiro. 5) Como era previsível erguem-se os argumentos de praxe contra a Venezuela no grupo; todavia, o que ninguém imaginava era a denúncia do Chanceler da República Oriental de que a presença do novo sócio correspondia mais à pressões da Presidente do Brasil, Dilma Rousseff, do que propriamente a uma decisão amadurecida e desejada também por Argentina e Uruguai. Tudo misturado e a perspectiva de crise econômica continuada, sobretudo, na Comunidade Europeia, dá muito o que falar.
Todavia, hay que resistir tchê! Y com ternura.
Foi nesse quadro que se deu a visita do Primeiro Ministro da China, Wen Jiabao, à região, inclusive a “Conferência Rio +20”. Para atestar o divisionismo imperante por ocasião das lutas independentistas, há 200 anos atrás, os interesses de Chile, Colômbia e Peru recolocam na cena política as dificuldades reais de integração latino-americana. A ampliação do arco de aliança com a presença do Equador, Bolívia, Suriname e Guiana, por si só, não resolvem o problema, pois são grandes os desequilíbrios econômicos entre os países, bem como os interesses de natureza política. A perspectiva de um plano estratégico de desenvolvimento regional vislumbrada no passado recente pela CEPAL fica, pois inviabilizada. Acordos unilaterais com os Estados Unidos continuam a ser um espantalho para a integração e emancipação latino-americanas.
As transformações comerciais que apontam para as dificuldades da OMC e a presença crescente de medidas protecionistas, inclusive entre membros do atual Mercosul, parecem ensejar o desejo de participação mais decidida da China na região. Uma aliança estratégica da China com o Mercosul parece ter sido a proposta feita por
Wen Jiabao e é ambiciosa: Segundo a Agência de notícias Xinghua (26/06/2012) a China dispõe-se a realizar, através do Banco de Desenvolvimento da China: 1) um investimento global de 5.000 milhões de dólares visando combater o protecionismo, que se agiganta a nível mundial, através de acordos bilaterais com a região. E mais uma linha de crédito de 10.000 milhões de dólares para investimentos em infraestruturas básicas. 2) cooperação agrícola visando o estabelecimento de um mecanismo de reserva alimentar em torno de 500 mil toneladas destinado a contingências naturais e ajuda alimentar. 3) instalação de centros de P&D (pesquisa e desenvolvimento) em C&T (Ciência e Tecnologia) na agricultura.
            Certamente que a abertura de novos mercados através de cooperação que considera estratégica, é um interesse global da China. Mas não é também para o Mercosul? E como ficariam os interesses dos EUA nesse contexto? Tais questões se impõem ao Brasil na hora presente, num mundo de transformações mais rápidas do que imaginávamos.
            Ontem, 05/07/2012, em aparente ação sincronizada, o Banco da Inglaterra - o BC britânico - comunicou que iria retomar, após dois meses de suspensão, a impressão de dinheiro para comprar 50 bilhões de libras. Recorde-se que tais operações já atingiram 325 bilhões de libras. Mais tarde, o Banco Central Europeu (BCE) cortou sua taxa básica de 1% para 0,75% e a de depósito de 0,25% para zero. Entre os dois anúncios, o Banco Popular da China fez algo similar: reduziu sua taxa básica de empréstimo de 6,31% para 6% e sua taxa de depósito de 3,35 % para 3%. Poderíamos avaliar que tais medidas compõem um painel de afrouxamento monetário relativo na linha do que tem proposto o próprio Brasil e o Mercosul? E como respondemos à batida da China na porta latino-americana?