ENCONTRO
INTERNACIONAL DE FoMERCO EM PARAGUAI
Gisálio
Cerqueira Filho
Foto: Participantes
do Forum Universitário Mercosul (FoMERCO) na recepção ocorrida na Casa do Embaixador do Brasil no Paraguai, 1ª fila, centro da foto.
Viajamos para Assunción com
a finalidade de realizar um encontro de natureza acadêmica sobre o Mercosul
entre os dias 02 e 04 de Setembro de 2015. O tema geral era: “Desenvolvimento e
Autonomia: os rumos da integração”. Professores, acadêmicos, estudantes de
pós-graduação, fomos recebidos no aeroporto de Assunción. Como chegávamos com
algum material e propaganda do congresso, folders,
banners, caixas com livros e impressos, houve necessidade de dar explicações
à alfândega local. A recepção foi muito boa, não houve problema de nenhuma
natureza, mas quando enchíamos o peito e falávamos orgulhosos do Mercosul,
ouvíamos a pergunta cética “¿ muy bién, pero que es esso, de Mercosul?”... Após reunirmo-nos em
Buenos Aires (2010), Montevideo (2012), estávamos agora em Assunción.
Alguns dias após o encerramento
do XV Forum Universitário do Mercoul (FoMERCO)
na Universidad Catolica de
Assuncíon (UCA) aconteceu algo que ninguém chegou a comentar, sequer como
possibilidade, durante as discussões do exitoso encontro. Simplesmente, logo em
seguida ocorreram as jornadas de luta estudantil
denominadas #UnaNoTeCalles. Foi de
fato um verdadeiro terremoto da juventude paraguaia que conseguiu depor o Dr. Froilán
Peralta como Reitor da Universidad Nacional (UNA), bem como implicou nesta
queda o afastamento sucessivo de diversas autoridades universitárias.
Já em Assunción, conversávamos com alguns colegas
sobre as greves múltiplas de docentes, estudantes e funcionários que aconteciam
nas universidades federais do Brasil. Comentávamos à noite, durante o jantar,
sobre o fato de serem, por um lado, inequívocos os avanços do ensino superior
federal no Brasil, especialmente no que concerne à recepção de novos estratos
sociais como estudantes universitários (embora muita coisa esteja por se
realizar), e por outro lado, o fato destas greves terem levado a um acachapante
esvaziamento dos campi que ficaram
literalmente entregues às moscas e aos mosquitos... Observávamos então que isto
prejudicava qualquer tipo de abordagem visando à discussão política consequente.
E inexoravelmente acaba por produzir intensa despolitização.
Todavia, em Paraguai há antecedentes para os
acontecimentos, inclusive a luta contra a Ley
de Educación Superior (LES) ocorrida em 2012 e as denúncias (2008) contra
um colaborador da ditadura de Stroessner – o Doutor José Antonio Moreno
Ruffinelli, que havia sido nomeado como Reitor da Casa de Estudios e contra o autoritarismo dos Estatutos. Na ocasião
ocorrera a tomada da sede central da UCA durante a aula magna que era então
realizada.
A diferença entre Paraguai e Brasil que queremos
ressaltar é que em Paraguai o movimento #UnaNoTeCalles foi estruturando-se aos poucos na massa
estudantil e propiciando um fecunda discussão. Tal não tem acontecido no
Brasil. A chamada crise universitária, que tem muito mais de “crise de
crescimento e inclusão”, tem sido apresentada como crise clássica de carências,
faltas e ausências; o que, no nosso entender, não é bem o está acontecendo.
Por seu turno o movimento #UnaNoTeCalles produziu rapidamente um outro fenômeno, já
aí ao nível dos colégios públicos e particulares, com o sonoro título #ElSilencioNoEsNuestroIdioma. Mas, de fato, o silêncio dos campi federais no Brasil nos faz pensar... Observamos como a
maioria dos estudantes, sobretudo aqueles que, além de jovens, tem dificuldades
de toda sorte, chegam ávidos ao campus.
O que eles mais desejam é serem acolhidos e orientados na organização de uma
pauta de estudos que produza uma revolução nas suas vidas.
Devemos os educadores, professores e orientadores,
apurar a inteligência e a sensibilidade para esse acolhimento pedagógico. Oxalá
os grandes Augusto Roa Bastos (1917-2005), com sua obra e especialmente com “Yo El Supremo” (1974), assim como
Agustin Barrios Mangoré (1985-1944), violonista, compositor e mestre da
guitarra, nos permitam afinar pensamento e sentimento nesta direção.
Rio de Janeiro, 05 de Outubro de 2015.