A China
bate à porta
Gisálio Cerqueira Filho
Tudo acontecendo junto: 1) a
crise no Paraguai com o impedimento do Presidente Lugo e logo a suspensão do
parceiro do Mercosul em reunião concertada pelos presidentes do Brasil,
Uruguai e Argentina. 2) as inevitáveis
repercussões da crise, as vozes agourentas de sempre, agora renovadas, numa
visão catastrofista em marcha. 3) Como se não bastasse, na reunião do Mercosul
em Mendoza, o Embaixador Samuel Pinheiro Guimarães apresenta renúncia de suas
funções como Alto Representante Geral e apresenta uma carta-documento sobre os
impasses do Grupo. 4) A Venezuela é anunciada como novo membro do Mercosul em
Mendoza, no vácuo do poder, propiciado pela ausência guarani, cuja Câmara dos
Deputados não era favorável ao novo parceiro. Dá-se então o anúncio de que
haveria a confirmação da Venezuela como membro pleno no fim de julho em reunião
prevista para a cidade do Rio de Janeiro. 5) Como era previsível erguem-se os
argumentos de praxe contra a Venezuela no grupo; todavia, o que ninguém
imaginava era a denúncia do Chanceler da República Oriental de que a presença
do novo sócio correspondia mais à pressões da Presidente do Brasil, Dilma
Rousseff, do que propriamente a uma decisão amadurecida e desejada também por
Argentina e Uruguai. Tudo misturado e a perspectiva de crise econômica
continuada, sobretudo, na Comunidade Europeia, dá muito o que falar.
Todavia, hay que resistir tchê! Y com ternura.
Foi nesse quadro que se deu a
visita do Primeiro Ministro da China, Wen Jiabao, à região, inclusive a
“Conferência Rio +20”. Para atestar o divisionismo imperante por ocasião das
lutas independentistas, há 200 anos atrás, os interesses de Chile, Colômbia e
Peru recolocam na cena política as dificuldades reais de integração
latino-americana. A ampliação do arco de aliança com a presença do Equador,
Bolívia, Suriname e Guiana, por si só, não resolvem o problema, pois são
grandes os desequilíbrios econômicos entre os países, bem como os interesses de
natureza política. A perspectiva de um plano estratégico de desenvolvimento
regional vislumbrada no passado recente pela CEPAL fica, pois inviabilizada.
Acordos unilaterais com os Estados Unidos continuam a ser um espantalho para a
integração e emancipação latino-americanas.
As transformações comerciais que
apontam para as dificuldades da OMC e a presença crescente de medidas
protecionistas, inclusive entre membros do atual Mercosul, parecem ensejar o
desejo de participação mais decidida da China na região. Uma aliança
estratégica da China com o Mercosul parece ter sido a proposta feita por
Wen Jiabao e é ambiciosa: Segundo a Agência de
notícias Xinghua (26/06/2012) a China dispõe-se a realizar, através do Banco de
Desenvolvimento da China: 1) um investimento global de 5.000 milhões de dólares
visando combater o protecionismo, que se agiganta a nível mundial, através de
acordos bilaterais com a região. E mais uma linha de crédito de 10.000 milhões
de dólares para investimentos em infraestruturas básicas. 2) cooperação
agrícola visando o estabelecimento de um mecanismo de reserva alimentar em
torno de 500 mil toneladas destinado a contingências naturais e ajuda alimentar.
3) instalação de centros de P&D (pesquisa e desenvolvimento) em C&T
(Ciência e Tecnologia) na agricultura.
Certamente
que a abertura de novos mercados através de cooperação que considera
estratégica, é um interesse global da China. Mas não é também para o Mercosul?
E como ficariam os interesses dos EUA nesse contexto? Tais questões se impõem
ao Brasil na hora presente, num mundo de transformações mais rápidas do que
imaginávamos.
Ontem,
05/07/2012, em aparente ação sincronizada, o Banco da Inglaterra - o BC britânico
- comunicou que iria retomar, após dois meses de suspensão, a impressão de
dinheiro para comprar 50 bilhões de libras. Recorde-se que tais operações já
atingiram 325 bilhões de libras. Mais tarde, o Banco Central Europeu (BCE)
cortou sua taxa básica de 1% para 0,75% e a de depósito de 0,25% para zero.
Entre os dois anúncios, o Banco Popular da China fez algo similar: reduziu sua
taxa básica de empréstimo de 6,31% para 6% e sua taxa de depósito de 3,35 %
para 3%. Poderíamos avaliar que tais medidas compõem um painel de afrouxamento
monetário relativo na linha do que tem proposto o próprio Brasil e o Mercosul? E
como respondemos à batida da China na porta latino-americana?
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