sexta-feira, 6 de julho de 2012


A China bate à porta
  
 Gisálio Cerqueira Filho 

Tudo acontecendo junto: 1) a crise no Paraguai com o impedimento do Presidente Lugo e logo a suspensão do parceiro do Mercosul em reunião concertada pelos presidentes do Brasil, Uruguai  e Argentina. 2) as inevitáveis repercussões da crise, as vozes agourentas de sempre, agora renovadas, numa visão catastrofista em marcha. 3) Como se não bastasse, na reunião do Mercosul em Mendoza, o Embaixador Samuel Pinheiro Guimarães apresenta renúncia de suas funções como Alto Representante Geral e apresenta uma carta-documento sobre os impasses do Grupo. 4) A Venezuela é anunciada como novo membro do Mercosul em Mendoza, no vácuo do poder, propiciado pela ausência guarani, cuja Câmara dos Deputados não era favorável ao novo parceiro. Dá-se então o anúncio de que haveria a confirmação da Venezuela como membro pleno no fim de julho em reunião prevista para a cidade do Rio de Janeiro. 5) Como era previsível erguem-se os argumentos de praxe contra a Venezuela no grupo; todavia, o que ninguém imaginava era a denúncia do Chanceler da República Oriental de que a presença do novo sócio correspondia mais à pressões da Presidente do Brasil, Dilma Rousseff, do que propriamente a uma decisão amadurecida e desejada também por Argentina e Uruguai. Tudo misturado e a perspectiva de crise econômica continuada, sobretudo, na Comunidade Europeia, dá muito o que falar.
Todavia, hay que resistir tchê! Y com ternura.
Foi nesse quadro que se deu a visita do Primeiro Ministro da China, Wen Jiabao, à região, inclusive a “Conferência Rio +20”. Para atestar o divisionismo imperante por ocasião das lutas independentistas, há 200 anos atrás, os interesses de Chile, Colômbia e Peru recolocam na cena política as dificuldades reais de integração latino-americana. A ampliação do arco de aliança com a presença do Equador, Bolívia, Suriname e Guiana, por si só, não resolvem o problema, pois são grandes os desequilíbrios econômicos entre os países, bem como os interesses de natureza política. A perspectiva de um plano estratégico de desenvolvimento regional vislumbrada no passado recente pela CEPAL fica, pois inviabilizada. Acordos unilaterais com os Estados Unidos continuam a ser um espantalho para a integração e emancipação latino-americanas.
As transformações comerciais que apontam para as dificuldades da OMC e a presença crescente de medidas protecionistas, inclusive entre membros do atual Mercosul, parecem ensejar o desejo de participação mais decidida da China na região. Uma aliança estratégica da China com o Mercosul parece ter sido a proposta feita por
Wen Jiabao e é ambiciosa: Segundo a Agência de notícias Xinghua (26/06/2012) a China dispõe-se a realizar, através do Banco de Desenvolvimento da China: 1) um investimento global de 5.000 milhões de dólares visando combater o protecionismo, que se agiganta a nível mundial, através de acordos bilaterais com a região. E mais uma linha de crédito de 10.000 milhões de dólares para investimentos em infraestruturas básicas. 2) cooperação agrícola visando o estabelecimento de um mecanismo de reserva alimentar em torno de 500 mil toneladas destinado a contingências naturais e ajuda alimentar. 3) instalação de centros de P&D (pesquisa e desenvolvimento) em C&T (Ciência e Tecnologia) na agricultura.
            Certamente que a abertura de novos mercados através de cooperação que considera estratégica, é um interesse global da China. Mas não é também para o Mercosul? E como ficariam os interesses dos EUA nesse contexto? Tais questões se impõem ao Brasil na hora presente, num mundo de transformações mais rápidas do que imaginávamos.
            Ontem, 05/07/2012, em aparente ação sincronizada, o Banco da Inglaterra - o BC britânico - comunicou que iria retomar, após dois meses de suspensão, a impressão de dinheiro para comprar 50 bilhões de libras. Recorde-se que tais operações já atingiram 325 bilhões de libras. Mais tarde, o Banco Central Europeu (BCE) cortou sua taxa básica de 1% para 0,75% e a de depósito de 0,25% para zero. Entre os dois anúncios, o Banco Popular da China fez algo similar: reduziu sua taxa básica de empréstimo de 6,31% para 6% e sua taxa de depósito de 3,35 % para 3%. Poderíamos avaliar que tais medidas compõem um painel de afrouxamento monetário relativo na linha do que tem proposto o próprio Brasil e o Mercosul? E como respondemos à batida da China na porta latino-americana?

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